Quando a gente fala em Rio de Janeiro, logo vêm à cabeça o Cristo Redentor, as praias, o samba… mas tem um outro lado da cidade que também faz parte dessa história toda: as favelas. Elas não surgiram do nada — têm uma origem cheia de luta, resistência e transformação social.
Nesse post, a ideia é voltar no tempo e entender como tudo começou. Quais foram as primeiras favelas do Rio? Por que surgiram? E como elas foram se espalhando pelos morros e cantos da cidade?
Muito além do estereótipo, as favelas contam uma parte essencial da história do Rio. Bora entender de onde veio tudo isso e como esse movimento foi crescendo até virar o que é hoje?
Como as Favelas Surgiram no Rio de Janeiro
O nascimento das favelas no Rio de Janeiro está diretamente ligado aos acontecimentos do fim da Guerra de Canudos, no final do século XIX. Após a vitória do Exército sobre o movimento liderado por Antônio Conselheiro, muitos soldados vindos da Bahia vieram para a então capital federal em busca das terras e do pagamento prometido pelo governo. Sem receber nada do que lhes foi garantido, acabaram ocupando o Morro da Providência, construindo barracos improvisados para sobreviver. A região era coberta por uma planta chamada “favela”, típica do sertão nordestino, e o nome acabou se tornando a marca daquele tipo de ocupação.
Com o tempo, ex-escravizados recém-libertos, imigrantes pobres e trabalhadores sem acesso a moradia formal se juntaram àqueles primeiros ocupantes. A ausência de políticas públicas de habitação e o crescimento acelerado da cidade empurraram cada vez mais pessoas para as encostas, resultando em comunidades formadas de maneira desordenada e sem infraestrutura adequada. Assim, a favela se tornou a solução encontrada por milhares de famílias para ter um teto no Rio de Janeiro.
As Primeiras Favelas do Rio
As primeiras favelas surgiram de forma espontânea e sem qualquer tipo de planejamento. Eram locais de refúgio para pessoas que buscavam moradia barata e próxima às áreas centrais, mas que não encontravam espaço ou condições de viver nos bairros formais. Esses locais cresceram rapidamente, formando comunidades que, mesmo com dificuldades, desenvolveram suas próprias culturas, modos de organização e identidades marcantes dentro da cidade.
Morro da Providência
Considerada a primeira favela do Rio de Janeiro, surgiu no final do século XIX, quando soldados vindos da Guerra de Canudos se instalaram na região por não receberem os terrenos e benefícios prometidos pelo governo. A ocupação começou de forma improvisada, com barracos de madeira e zinco, sem infraestrutura básica como água ou saneamento. Com o tempo, outras famílias em situação de vulnerabilidade se juntaram aos soldados, dando origem a uma comunidade fixa. O Morro da Providência é um marco histórico, pois deu nome a todas as ocupações semelhantes que surgiram depois, além de estar localizado em uma área estratégica próxima ao Porto do Rio, onde muitos moradores buscavam trabalho.
Morro do Santo Antônio
Localizado na região central do Rio, começou a ser ocupado no início do século XX por famílias pobres que não tinham condições de pagar aluguel em áreas formais da cidade. Por estar perto do centro comercial e das obras de urbanização da época, tornou-se um ponto estratégico para trabalhadores que buscavam emprego nas redondezas. As casas eram erguidas de forma precária, sem qualquer planejamento urbano, e a comunidade cresceu rapidamente. No entanto, décadas depois, parte do morro foi demolida durante a expansão da cidade, mas sua importância histórica permanece como uma das primeiras grandes favelas do Rio.
Morro da Mangueira
A comunidade começou a se formar no início do século XX, com a chegada de trabalhadores pobres que se instalaram em barracos improvisados próximos à linha férrea e às indústrias da região. A Mangueira ficou conhecida nacionalmente pela fundação de sua escola de samba, em 1928, que se tornou um dos maiores símbolos do carnaval carioca. A favela cresceu ao longo das décadas, enfrentando problemas de infraestrutura, mas se consolidou como um polo cultural do Rio, sendo berço de sambistas famosos e um dos locais mais tradicionais da música popular brasileira.
Morro do Salgueiro
Surgiu nas primeiras décadas do século XX, abrigando principalmente famílias de migrantes nordestinos que vieram ao Rio em busca de melhores condições de vida. Sem alternativas de moradia acessível, ocuparam as encostas do morro e construíram suas casas com o que tinham disponível. Ao longo do tempo, a comunidade se tornou conhecida por sua forte ligação com o samba e pela criação da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, que ajudou a colocar o bairro em evidência culturalmente. Hoje, o Salgueiro é lembrado como uma das comunidades mais tradicionais da cidade, com raízes profundas na história do carnaval carioca.
Morro do Borel
Localizado na Tijuca, zona norte do Rio, é considerado uma das primeiras favelas da região, surgindo no início do século XX. Foi ocupado por trabalhadores de baixa renda que buscavam viver próximos às fábricas e obras em expansão na cidade. As moradias surgiram sem planejamento e infraestrutura, resultando em ruas estreitas e construções amontoadas. Ao longo dos anos, o Borel se tornou um importante centro comunitário, conhecido tanto pela sua luta por melhores condições de vida quanto pela contribuição cultural para a cidade, especialmente através da música e das manifestações artísticas locais.
➡️Veja também – Favelas com as vistas mais bonitas do Rio
A Evolução das Favelas e Sua Influência na História do Rio
As primeiras favelas do Rio surgiram em um contexto de abandono social e falta de políticas públicas, mas logo se tornaram muito mais do que simples ocupações. A vida nessas comunidades era marcada pela luta diária por moradia, água e sustento, mas também pela união dos moradores, que criavam laços fortes para enfrentar as dificuldades.
Com o tempo, essas comunidades ganharam um papel importante na formação da cultura carioca. Foi nos morros que o samba floresceu, dando origem a algumas das escolas mais tradicionais do carnaval, além de outras expressões culturais que se espalharam pela cidade e pelo Brasil.
Hoje, as favelas fazem parte da identidade do Rio, misturando história, resistência e transformação, mesmo diante dos desafios que ainda persistem.